No 129 - Ano X - Setembro de 2006


Quando alguém chega ao Tango, seja como espectador ou para aprender a bailar, é difícil que distinga diferenças de estilos. 

As comunidades tangueiras, o tempo (grande mestre), a experiência, a fre-qüência de pista, os locais, as pessoas com quem se dança e os diferentes professores com quem se aprende vão nutrindo e moldando o aprendizado. 

Com o conhecimento progressivo, vai-se aguçando o olhar e começam a aparecer diferenças, variações que antes não se notavam.  Gradualmente, vai-se reconhecendo uma diversidade de estilos. 

O problema das discussões fanáticas sobre estilos de tango é que às vezes levam as pessoas menos experientes a tomar partido precocemente. 

O certo é que o tema não é importante para quem começa a aprender.  Não se deve confundir entre os estilos do tango - essas formas que se estabele-ceram para  dançá-lo - com o estilo pessoal que cada um adquire em sua dança. 

O estilo próprio não é sustentado apenas pelo do professor com quem se aprende.  Os professores mostram um caminho, mas existem outras variáveis que influem: personalidade, habilidades, ouvido musical, vivências, características corporais, sensibilidade, gostos, afinidades, cultura estética, que vão nutrindo aquilo que será não apenas o estilo de tango com o qual se dança, mas sim o próprio estilo pessoal.

Lidia Ferrari (Buenos Aires Tango – trad. RM)

 

Cantemos

Celos son, los que me provocan, si,

esta tortura, de amante con locura,

yo tengo miedo que este inmenso amor

tan solo resulte al fin,

ciego delirio de mi loca pasión.

 

Si tu te vas, ya mi fe en sombras está,

y al regresar, tu calor revive mi amor.

Son celos si, no tienen fin,

matan, me matan, oh Dios.

 

Hablemos en paz, del amor,

mi alma vibrando feliz,

tus ojos tan negros como el dolor,

también me prometen dicha y pasión,

y temo que ya al despertar

tus besos se alejen de mi.

Son celos, infierno, otelos que matan

de horror, la razón y el amor.

 

Assim se tece a história

 

Jacob Gade, o desconhecido criador de "Celos"

Jacob Thune Hansen Gade nasceu em Vlejel, Dinamarca, em 29 de novembro de 1869 e faleceu em 20 de de fevereiro de 1963.  Pertenceu a uma família de músicos.  Debutou aos nove anos como trompetista, chamando tanta atenção que, um ano depois foi convidado a ir a Copenhague para trabalhar na orquestra do Tivoli Garden, o famoso parque de diversões. 

E dali nasceu sua ambição de ser um músico reconhecido.  Queria ser maestro, escrever valses, o fino da época, mas passou dificuldades, dormindo ao relento, em sua busca de trabalho, que começou em pequenas cafeterias.  Alguns anos mais tarde, já maior de idade, surge a  oportunidade de tocar em centros noturnos, onde integrou várias orquestras até que em 1903, já regia sua própria, mantendo o estilo criador e difusor de música dançante.  Em 1909, com o reconhecimento de seu trabalho, começa a aprofundar seus conhecimentos musicais.  Em 1914 passa a reger orquestras de teatros e também de cinemas durante os filmes mudos.  Como compositor, produz valses e o principal jornal da cidade o nomeia "O rei do vals", cumprindo-se seu sonho juvenil.

Em 1919 chega a Nova York, e logo passa para a Orquestra Filarmônica da cidade, dedicando-se por dois anos à música clássica. Voltou ao seu país para reger orquestras e compor e arranjar música para as projeções dos filmes.  Nesta época se dá a criação de "Celos".  Contam que foi o título que inspirou a melodia.  Descansava em Cristiania, num moinho afastado da cidade, quando chegou às suas mãos um jornal que noticiava que um homem havia matado sua mulher por ciúmes.  Seu "tango gitano" "Celos" foi sucesso mundial. Seus direitos de autor foram tão importantes que, na década de 70, calculava-se que a canção era emitida, no mínimo, uma vez por minuto em alguma rádio do planeta.  Depois de "Celos", compôs os tangos "Romanesca”, "El matador", "Tango charmeuse", "Lille Mary Anne", "Azucena" y "Tango Glamour" e o vals "Caprichoso”.

Ao redigir seu testamento em 1956, incluiu a vontade de que todos seus bens e os direitos futuros fossem para uma fundação, criada com seu nome, de ajuda a músicos jovens e talentosos.  Explicando o motivo:  "Ainda me lembro das dificuldades econômicas e educacionais que tive quando, ainda jovem, cheguei a Copenhague com o propósito de ganhar a vida com a música."

Fonte: David Pinsón Ovejero y Néstor Pinsón para Todo Tango  (trad. RM)