No 170 - Ano XIV - Março de 2010


Angela Cepeda e Gersinho

O Tango marca, sim! É diferente dos outros ritmos, é tão especial que se involucram nele pessoas também especiais porque ele seleciona. O Tango é diferente: surgem aqueles que ouvem um Anibal Troilo e nada sentem; não entendem quando a gente fala sobre seus compassos com tanta vontade e até com propriedade.  Alguns se apoderam de um estilo como se fossem os fundadores, de tanto que idolatram e contam histórias. 

Esta dança me permite ter encontros com pessoas maravilhosas.  Ele é o meu encontro no sentido mais amplo da palavra. "encontrar": achar, achegar, unir, topar, deparar com... o Tango.  Dar de cara e de corpo com o outro, como ir de encontro ao abraço, ao prazer, à proteção, no que se refere à mulher. Existem homens que passam isto na dança:  proteção, acolhimento, afeto e às vezes, nada... 

Encontrar um olhar numa pessoa triste, feliz, perdida, solitária, que vai em busca de algum encontro, dos mais diversos tipos de encontros, que até aquelas que estão acompanhadas querem encontrar...  

Vinicius de Moraes disse que os amigos não se conhecem, mas sim, se reconhecem:  é um reconhecimento que tenho com o Tango.

Lili Mef 

 

 

Cantemos

Letra:  Carlos Bahr                                                    Música:   Rodolfo Biagi 

Ay que lindo es bailar

y dejarse llevar

dulcemente en los brazos queridos.

Y sentir al girar

que las vueltas del vals

nos arrastra en su remolino.

 

Yo no sé si es el vals

con su loco girar

que me aturde de extraña emoción.

O es el dulce placer

de abrazarme a mi bien

al influjo del vals y el amor.

Orquestra de Rodolfo Biagi, canta Alberto Lago

Assim se tece a história

 

Letrista e poeta, Carlos Andrés Bahr nasceu em 15 de outubro de 1902 na cidade de Buenos Aires, no bairro La Boca, nas imediações do clube de futebol River Plate.  Quando se desencadeou a primeira guerra mundial, em 1914, seu pai, um alemão dono de uma baleeira, partiu para a Europa com seu barco para servir sua pátria.  E nunca mais se soube dele.  Com isso, a vida da família teve um baque econômico e os Bahr se mudaram para o subúrbio de Bernal.  Carlos concluiu os estudos primários e logo partiu para a rua.

Desempenhou algumas ocupações ocasionais; até frequentou a escola de máquinas da Marinha de Guerra.  Mas a boemia, a leitura e a literatura logo se apoderaram dele.  Deixou sua casa e se aventurou pela cidade, vivendo como e onde podia, sem domicílio fixo, sempre escrevendo.  Jornalismo, teatro, especialmente poesia, mas sem nenhum resultado relevante.  E assim, desordenadamente, foi se formando.

Quando se inicia a famosa década de 40, começam também os títulos famosos de Carlos Bahr.  Um dessa primeira fornada, poderia ser "Desconsuelo", tango com música de Héctor Maria Artola, bandoneonista e maestro ao qual estaria associado em muitos sucessos, como  "Tango e copas" e "Marcas", entre outros.  Sua produção de maior êxito foi com o pianista Manuel Sucher:   "En carne propia", "Prohibido", "Precio", "Muriéndome de amor", "Nada más que un corazón" e o belíssimo "Dónde estás".  Continuou toda a década produzindo impactos a granel, conectado com os mais importantes compositores e bem perto dos músicos das mais importantes orquestras, junto aos quais foi produzindo seus trabalhos mais transcendentes. 

De todos esses vínculos, o mais estreito possivelmente foi o que manteve com o grupo de Miguel Caló, com cujos integrantes alcançou inúmeros sucessos:  "Mañana iré temprano", "Pecado", "El mismo dolor", "Canción inolvidable" (Francini); "Cada día te extraño más", "Corazón no le hagas caso", "Cuando talla un bandoneón" (Pontier); "Caricias perdidas" (Stamponi); "Valsecito", "Con la misma moneda" (Caló); "De vuelta", "Estás conmigo", "Como una de tantas" (Lázzari); "Gracias" (Elías Randal); "Sin comprender", "Siempre", "Quise ser un Dios" (Nijensohn); "Cosas del amor" (Domingo Federico).  Veio a falecer em 23 de julho de 1984. 

Fonte: "Tango y Lunfardo" no 108, 16/08/1995, por Gaspar J. Astarita.