Nº 77 - Ano VII - Maio de 2002


  CARTA  A    UM    HOMEM    DESCONHECIDO

Meu querido:

Pensando em mim e na vontade de que entendas como sou e o que sinto, pensei: “vou falar contigo na linguagem corporal do tango, que sempre tem algo para ensinar”.

Quero estar bem defronte a ti, centrada e no eixo, posicionando meu corpo (minha vida) para diante, com intenção, com energia, até você.  Mas sem apoiar-me em demasia, sem fazer peso, para que não me carregues arrastada, para que, se quiseres afastar-te, eu me sustente por mim mesma, centrada, sem cair.

Ser leve o bastante para que possas, num abraço amoroso, elevar-te comigo.  E ter suficiente peso ou densidade para não despregar os pés do chão.

Assim, poderíamos dançar bela e prazerosamente um tango, dois, ou uma tanda completa (isso depende de quanto desfrutemos de nossa parceria).

E caso termine, nos diríamos “obrigado” e cada um voltaria à sua mesa.

Amor, espero que compreendas o que digo e possas dançar comigo, intensa e livremente, o tango que a vida nos oferece.

Tua, Yú.

Patricia Herrera (Bs.As.)

 

Cantemos...

    

(tango)

Letra:  Luis Rubinstein                                                                Música:   Peregrino Paulos 

 

Por la senda del dolor cruzaron 
en bandadas los recuerdos del ayer,
trayendo en pos aquel querer
donde quemé la dulce fe de mi ilusión
hecha canción plegaria en flor
que ayer bordé en el calor del bulín de bohemia,
en sueño azul que me dejó el sinsabor de mi anemia.
Se tronchó mi corazón en la esperanza vana
que asomara a mi balcón.
Y, qué fatal, me trajo el mal.

(Recitado)

Soplaron un viento de astillón los valles
y trajeron las cenizas de mi lírica ilusión.
Hecha carne las tinieblas de mi juventud perdida
donde murió mi bohemia con mi última canción.
Hoy las escarchas de los años 

me blanquearon los cabellos.
Y estoy solo en la tragedia de mi triste soledad.
Pero aún siento la nostalgia de tus negros ojos bellos.


Juventud que ya se fue tras
el vano sueño azul de ayer.
Deshojada y mustia flor de amor,
ilusión que mató el dolor.

 

 

Versão instrumental  - Orquestra Enrique Francini

 

 

Assim se tece a história

Em todo o mundo e em todos os tempos existiram compositores que produziram obras maravilhosas sem saber escrever uma só nota musical.  No ambiente tangueiro, também houve uma enorme quantidade de “orejeros”, criadores de grandes melodias.  Dentre essa infinidade de criadores estava Luis Rubinstein, autor, jornalista e compositor.  Nasceu em Buenos Aires, no ano de 1908.  Trabalhou na revista Sintonía.  Suas obras mais importantes são Charlemos, Cuatro palabras, Un crimen, Cadenas, Ya sale el tren, Venganza, Rebelión, Nada más, Marion, Tu perro pekinés, Inspiración e outras.  Faleceu em 11 de agosto de 1954.

Além de compor a música de seus tangos, Rubinstein escreveu letras para obras de outros.  Conta a  lenda  tangueira que lá pelo ano 1916, o violinista Peregrino Paulos, quando integrava o conjunto de Augusto P. Berto, compôs o tango Inspiración, uma verdadeira obra de arte que, a princípio, não logrou êxito pois era muito avançada para a época.

Quatorze anos mais tarde, sentados ao redor da mesa de um café, um grupo de homens de tango comentava que o velho tango Inspiración, mesmo sendo uma das melhores conquistas daquele ritmo, voltaria a ser sucessocaso um bom poeta lhe pusesse a letra, já que atualmente estavam no auge os cantores, através do rádio.

Mas a maioria dos músicos presentes a essa reunião sustentavam que era impossível versificá-la dado ao feitio desigual da música.  Um deles, nada menos do que Pedro Maffia – afirmou categoricamente que escrever uma letra para Inspiración era totalmente impossível e até chegou a apostar polpuda soma de dinheiro como ninguém seria capaz de fazê-lo.  Foi então que Rubinstein – também presente na reunião – recolheu suas luvas, apresentando-se no dia seguinte no mesmo café com o trabalho realizado.  Maffia leu e agradou-se tanto, que lhe pagou a aposta.

Com a letra de Rubinstein,  Inspiración converteu-se em sucesso, pois não havia cantor que não o quisesse interpretar.  Com os direitos de autor, Rubinstein fundou e tornou-se diretor, em 1935, da Primeira Academia Argentina de Intérpretes (PAADI), de onde saíram vocalistas famosos.  O homem tornou-se rico – sem dúvida, além de “ouvido”, tinha “faro”.

Fonte:  www.todotango.com.ar – Trad. RM