Nº 77 - Ano VII - Maio de 2002
CARTA
A
UM
HOMEM
DESCONHECIDO Meu
querido: Pensando
em mim e na vontade de que entendas como sou e o que sinto, pensei: “vou
falar contigo na linguagem corporal do tango, que sempre tem algo para
ensinar”. Quero
estar bem defronte a ti, centrada e no eixo, posicionando meu corpo (minha
vida) para diante, com intenção, com energia, até você.
Mas sem apoiar-me em demasia, sem fazer peso, para que não me
carregues arrastada, para que, se quiseres afastar-te, eu me sustente por
mim mesma, centrada, sem cair. Ser
leve o bastante para que possas, num abraço amoroso, elevar-te comigo.
E ter suficiente peso ou densidade para não despregar os pés do
chão. Assim,
poderíamos dançar bela e prazerosamente um tango, dois, ou uma tanda
completa (isso depende de quanto desfrutemos de nossa parceria). E
caso termine, nos diríamos “obrigado” e cada um voltaria à sua mesa. Amor,
espero que compreendas o que digo e possas dançar comigo, intensa e
livremente, o tango que a vida nos oferece. Tua,
Yú. Patricia
Herrera (Bs.As.) |
(tango)
Letra: Luis Rubinstein Música: Peregrino Paulos
Por la senda del dolor cruzaron me blanquearon los cabellos. |
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Versão instrumental - Orquestra Enrique Francini |
Assim se tece a história |
Em
todo o mundo e em todos os tempos existiram compositores que produziram obras
maravilhosas sem saber escrever uma só nota musical.
No ambiente tangueiro, também houve uma enorme quantidade de
“orejeros”, criadores de grandes melodias.
Dentre essa infinidade de criadores estava Luis Rubinstein,
autor, jornalista e compositor. Nasceu em Buenos Aires, no ano de 1908. Trabalhou na revista Sintonía. Suas
obras mais importantes são Charlemos, Cuatro palabras, Un
crimen, Cadenas, Ya sale el tren, Venganza, Rebelión,
Nada más, Marion, Tu perro pekinés, Inspiración
e outras. Faleceu
em 11 de agosto de 1954.
Além
de compor a música de seus tangos, Rubinstein escreveu letras para obras de
outros. Conta a
lenda tangueira que lá pelo
ano 1916, o violinista
Peregrino Paulos, quando integrava o conjunto de Augusto P. Berto, compôs o
tango Inspiración, uma verdadeira obra de arte que, a princípio, não
logrou êxito pois era muito avançada para a época.
Quatorze
anos mais tarde, sentados ao redor da mesa de um café, um grupo de homens de
tango comentava que o velho tango Inspiración, mesmo sendo uma das
melhores conquistas daquele ritmo, voltaria a ser sucessocaso um bom poeta lhe
pusesse a letra, já que atualmente estavam no auge os cantores, através do rádio.
Mas
a maioria dos músicos presentes a essa reunião sustentavam que era impossível
versificá-la dado ao feitio desigual da música.
Um deles, nada menos do que Pedro Maffia – afirmou categoricamente que
escrever uma letra para Inspiración era totalmente impossível e até
chegou a apostar polpuda soma de dinheiro como ninguém seria capaz de fazê-lo.
Foi então que Rubinstein – também presente na reunião – recolheu
suas luvas, apresentando-se no dia seguinte no mesmo café com o trabalho
realizado. Maffia
leu e agradou-se tanto, que lhe pagou a aposta.
Com
a letra de Rubinstein, Inspiración
converteu-se em sucesso, pois não havia cantor que não o quisesse interpretar. Com os direitos de autor,
Rubinstein fundou e tornou-se diretor, em 1935, da Primeira Academia Argentina
de Intérpretes (PAADI), de onde saíram vocalistas famosos.
O homem tornou-se rico – sem dúvida, além de “ouvido”,
tinha “faro”.
Fonte:
www.todotango.com.ar – Trad. RM