No 53 - Ano V - Maio de 2000


 

Bob Cunha e Aurya Pires

"Seguia a dirigir o carro quando deu-se conta de haver entrado no ar um programa de tangos.  Raridade.

Deixou-se possuir pela melancolia dos tons menores através de acordes secos; lembrou-se de Buenos Aires, onde quem lhe sente a alma entende o tango; a rudeza romântica de suas letras; o ritmo forte e marcado; os passos de dança; os bairros, a Boca; o cemitério em plena Recoleta; cabarés, frio e cigarros em noites cinzas de uma cidade perdida e achada no fim de um continente distante, mas inteira, forte, original, própria.

O tango lhe trouxe a década de 50 e o sentimento engolfante e indefinível de emoções que apropriavam-se de suas vivências.  Deixou-se ficar na companhia do rapaz que ele foi e agora ali estava, dentro dele, sonhador e intenso, com sua invencível mania de sonhar, fazer e acreditar na construção das coisas.

Feliz, teve lágrimas aos olhos.  Era apenas alguém capaz de sentir e entender um tango.  Feliz, também, ficou por sentir-se único, solitário e original.

"Volver, com la frente marchita,

las nieves del tiempo platearon mi sien.

Sentir, que es un soplo la vida, que veinte años no es nada (...)".  

 

(Trecho de crônica de Artur da Távola)

 

 

Cantemos...

(Vals - 1929)

 

Letra:   Héctor Pedro Blomberg                                             Música:  Enrique Maciel

Era rubia y sus ojos celestes reflejaban la gloria del día

y cantaba como una calandria la pulpera de Santa Lucía.

Era flor de la vieja parroquia ¿quién fue el gaucho que no la quería...?

Los soldados de cuatro cuarteles suspiraban en la pulpería.

Le cantó el payador mazorquero com un dulce gemir de vigüelas,

en la reja que olía a jazmines, en el patio que olía a diamelas:

"Con el alma te quiero, pulpera, y algún día tendrás que ser mía,

mientras llenan las noches del barrio las guitarras de Santa Lucía".

La llevó un payador de Lavalle cuando el año cuarenta moría;

ya no alumbran sus ojos celestes la parroquia de Santa Lucía...

No volvieron los trompas de Rosas a cantarle vidalas y cielos;

en el reja de la pulpería, los jazmines lloraban de celos.

Y volvió el payador mazorquero a cantar en el patio vacío

la doliente y postrer serenata que llevábase el viento del río:

"¿ Dónde estás con tus ojos celestes, oh, pulpera que no fuiste mía...?

¡ Cómo lloran por ti las guitarras, las guitarras de Santa Lucía...!"

 

 

Assim se tece a história

Nasceu em Buenos Aires em 18 de março de 1889 e morreu na mesma cidade em 3 de abril de 1955.

Sua atividade sempre teve relação com as letras: foi jornalista, contista poeta, novelista e autor teatral.

Um de seus temas preferidos foi o revisionismo da época federal. Não toma partido, mas sim destaca fatos e realidades que revivem seu passado. Seu colaborador musical foi o guitarrista Enrique Maciel e seu intérprete mais difundido, o cantor Ignacio Corsini.

Entre suas obras mais conhecidas, citaremos a "La que murió en Paris" e "La viajera perdida", entre aquelas sem cunho político, destacando entre as de temática federal "La pulpera de Santa Lucía", "Los jazmines de San Ignacio", "La mazorquera de Montserrat", "La canción de Amalia", "Barrio viejo del 80" e "Rosa morena" ("Abuelita Dominga"). E recordando o maior payador (repentista), escreveu "El adiós de Gabino Ezeiza".

(Trad. RM)

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