No 114 - Ano IX - Junho de 2005


Natalia Games e Gabriel Angió Editorial

O âmbito que o Tango proporciona permite-nos perceber conscientemente os pensamentos do outro, devido ao aumento da sensibilidade, à sintonia e a uma clara leitura do corpo.

É preciso lembrar que cada um de nós é singular como cada pentagrama criado por um maestro, despertando um ritmo é próprio e interpretando cada compasso segundo a expansão das sensações em seu sentido pessoal e único.

Observamos o salão e vemos um alinhamento, um respeito aos espaços de cada um, ao sentido anti-horário e ao toque – porém sempre sendo fiéis às nossas individualidades.

Precisamos desprezar a frustração do desejo de nos igualarmos a qualquer outra pessoa.  A autocrítica, além de nos impedir de alcançar a essência prazerosa da entrega em um abraço, também nos distancia da nossa divina autenticidade. 

Talvez o propósito de nossa pre-sença na Milonga é nos tornarmos conscientes de nós mesmos, como seres capazes de criar.

Simplesmente, sejamos!

(A.D.R)

 

Cantemos

(Tango - 1931)

Letra: Horacio Staffolani                                                   Música: Pedro Mafia

Vengan a ver...
El bailongo se formó en su ley
a la luz de un gran farol medioeval.
Todo el barrio se volcó en aquel
caserón, bajo el parral, a bailar,
y al quejarse el bandoneón se escuchó
tristes las notas de un tango
que nos hablaba de amor, de mujer, de traición,
de milongas manchadas de sangre,
de sus malevos y el Picaflor.

 

Se fue el arrabal con toda su ley.
Su historia es, tal vez, la cruz del puñal.
Se fue el arrabal que hablaba de amor
y aquel taconear también se perdió.

 

¿Quién no sintió
la emoción del taconear y el ardor
que provoca el bandoneón al llorar?
Tango brujo de arrabal, triste son
que se agita en el misal de un querer
y en la lírica pasión del matón.
Notas que muerden las carnes
con su motivo sensual al volcar la pasión
que llevamos, tal vez, muy adentro,
en lo más hondo del corazón.

 

 

Assim se tece a história

Nasceu em Buenos Aires (Flores) em 1o de dezembro de 1898 e ali faleceu em 11 de dezembro de 1968.  Foi jornalista e transitou por diversos jornais.  Seus sonhos eram os versos líricos e terminou escrevendo tangos.  Pelos idos de 1925 encarregou-se da apresentação do dueto Magaldi-Noda, quando os guitarristas eram os amigos José María Aguilar e Enrique Maciel.  Uma noite, o amigo Aguilar lhe confessou ter deixado o jornal e sua veia poética levou-o a compor tangos, como Cadícamo e Flores, apesar das incertezas financeiras.  Sabia que Staffolani não gostava de escrever para o cancioneiro popular, mas lhe propôs uma oportunidade.  Pediu-lhe um tema em verso e ele comporia uma canção.  Foi feito o trato.  Dias depois, Staffolani lhe entregava uma letra chamada ¿Cuándo volverás?.  O tempo passou. 

Numa reunião com Pedro Maffia, os De Caro e outros, tirando do bolso uns papéis, Aguilar deixou cair a letra de Staffolani.  Maffia a leu e perguntou de quem era aquela letra.  Impressionado, guardou-a.  Dias depois, saiu no jornal a crítica de página inteira do jornalista Carlos de la Púa, sobre o tango ¿Cuándo volverás?, que o grande bandoneonista Pedro Maffia musicou com as melodias mais divinas do momento.  Dias depois, no teatro onde atuava, Maffia o convidou a entrar e executou o tango com sua orquestra.  O público rompeu num estrondoso aplauso ao escutar os primeiros compassos.  Teve que repetir três vezes .

No intervalo, conversaram muito.  Disse Maffia que Carlos Gardel faria uma turnê pela Espanha e ali gravaria seu tango.  Várias semanas dali se passaram e o dinheiro começou a entrar, por conta das gravações.  Staffolani deixa de lado os versos líricos e passa a escrever letras de tangos, mais lucrativas.  Dias depois do retorno de Gardel, encontraram-se efusivamente e o cantor lhe recomendou:  “Daqui em diante faça letras atrevidas, descaradas mesmo, para o pessoal do subúrbio... Garantia de sucesso, não te esqueças.”   Sacudiu-lhe a mão e saiu.  Assim Staffolani conheceu Pedro Maffia e Carlos Gardel.

Com Maffia fez ainda Taconeando e Ventarrón, gravados por Gardel, e também Piba boba, Sombra gris e Tengo celos.  Com Magaldi-Noda fez o belíssimo  No llores mi amor.

Fonte:  Todo Tango – trad. RM