No 114 - Ano IX - Junho de 2005
O âmbito que o Tango proporciona permite-nos perceber conscientemente os pensamentos do outro, devido ao aumento da sensibilidade, à sintonia e a uma clara leitura do corpo. É preciso lembrar que cada um de nós é singular como cada pentagrama criado por um maestro, despertando um ritmo é próprio e interpretando cada compasso segundo a expansão das sensações em seu sentido pessoal e único. Observamos o salão e vemos um alinhamento, um respeito aos espaços de cada um, ao sentido anti-horário e ao toque – porém sempre sendo fiéis às nossas individualidades. Precisamos desprezar a frustração do desejo de nos igualarmos a qualquer outra pessoa. A autocrítica, além de nos impedir de alcançar a essência prazerosa da entrega em um abraço, também nos distancia da nossa divina autenticidade. Talvez o propósito de nossa pre-sença na Milonga é nos tornarmos conscientes de nós mesmos, como seres capazes de criar. Simplesmente, sejamos! (A.D.R) |
Cantemos |
(Tango - 1931) Letra: Horacio Staffolani Música: Pedro Mafia |
Vengan a ver...
Se fue el arrabal con toda su ley.
¿Quién no sintió
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Assim se tece a história |
Nasceu em Buenos Aires (Flores) em 1o de dezembro de 1898 e ali faleceu em 11 de dezembro de 1968. Foi jornalista e transitou por diversos jornais. Seus sonhos eram os versos líricos e terminou escrevendo tangos. Pelos idos de 1925 encarregou-se da apresentação do dueto Magaldi-Noda, quando os guitarristas eram os amigos José María Aguilar e Enrique Maciel. Uma noite, o amigo Aguilar lhe confessou ter deixado o jornal e sua veia poética levou-o a compor tangos, como Cadícamo e Flores, apesar das incertezas financeiras. Sabia que Staffolani não gostava de escrever para o cancioneiro popular, mas lhe propôs uma oportunidade. Pediu-lhe um tema em verso e ele comporia uma canção. Foi feito o trato. Dias depois, Staffolani lhe entregava uma letra chamada ¿Cuándo volverás?. O tempo passou.
Numa reunião com Pedro Maffia, os De Caro e outros, tirando do bolso uns papéis, Aguilar deixou cair a letra de Staffolani. Maffia a leu e perguntou de quem era aquela letra. Impressionado, guardou-a. Dias depois, saiu no jornal a crítica de página inteira do jornalista Carlos de la Púa, sobre o tango ¿Cuándo volverás?, que o grande bandoneonista Pedro Maffia musicou com as melodias mais divinas do momento. Dias depois, no teatro onde atuava, Maffia o convidou a entrar e executou o tango com sua orquestra. O público rompeu num estrondoso aplauso ao escutar os primeiros compassos. Teve que repetir três vezes .
No intervalo, conversaram muito. Disse Maffia que Carlos Gardel faria uma turnê pela Espanha e ali gravaria seu tango. Várias semanas dali se passaram e o dinheiro começou a entrar, por conta das gravações. Staffolani deixa de lado os versos líricos e passa a escrever letras de tangos, mais lucrativas. Dias depois do retorno de Gardel, encontraram-se efusivamente e o cantor lhe recomendou: “Daqui em diante faça letras atrevidas, descaradas mesmo, para o pessoal do subúrbio... Garantia de sucesso, não te esqueças.” Sacudiu-lhe a mão e saiu. Assim Staffolani conheceu Pedro Maffia e Carlos Gardel.
Com Maffia fez ainda Taconeando e Ventarrón, gravados por Gardel, e também Piba boba, Sombra gris e Tengo celos. Com Magaldi-Noda fez o belíssimo No llores mi amor.
Fonte: Todo Tango – trad. RM