No 79 - Ano VII - Julho de 2002


"...Fuimos abrazados a la angustia de un presagio, por la noche de un camino sin salidas", escreveu  Homero Manzi.  Assim como  Hugo del Carril foi para Gardel, Bibi Ferreira para Edith Piaff, Nelson Gonçalves para Orlando Silva e outros.  Há, em grandes figuras, o desejo de se transformar, se transmutar, de transitar no outro, fundindo-se na cultura que desenvolvem.

  Tais alianças conduzem, por vezes, a assumir um nome de adoção em virtude de... Blas, por exemplo, ou Piazzolla.  São atos de afeição e de entrega.  O sax tenor se nutre de um bandoneón iluminado e mantém a essência sem perder o pessoal, o próprio; o certeiro, que conduz à dança transcendente e tangível, como podemos ver ao lado.

(A.D.R.)

 

Cantemos...

    

(vals - 1968)

Letra:  Horacio Ferrer                                                                Música:   Astor Piazzolla 

Por las noches, cara sucia de angelito con bluyín,

vende rosas por las mesas del boliche de Bachín:

si la luna brilla sobre la parrilla,

come luna y pan de hollín...

Cada día su tristeza que no quiere amanecer,

lo madruga un seis de enero con la estrella del revés

y tres reyes gatos roban sus zapatos,

uno izquierdo y el otro... ¡también!

 

Chiquilín, dame un ramo de voz,

¡así salgo a vender mis vergüenzas en flor...!

Baleame con tres rosas que duelan a cuenta

del hambre que no te entendí, Chiquilín...

 

Cuando el sol pone a los pibes delantales de aprender,

él aprende cuanto cero le quedaba por saber,

y a su madre mira, yira que te yira,

pero no la quiere ver...

Cada aurora, en la basura, con un pan y un tallarín, 

se fabrica un barrilete para irse... ¡y sigue aquí!

Es un hombre extraño, -niño de mil años-

que por dentro le enreda el piolín...

 

 

Assim se tece a história

Bandoneonista, maestro, compositor e arranjador.  Nasceu a 11 de março de 1924 em Mar del Plata, filho de Vicente “Nonino” Piazzolla e Asunta Manetti, com os quais radicou-se em Nova York aos quatro anos.  Com nove, ganhou de seu pai um bandoneón e assim, começou a estudar, apesar de gostar mais de Jazz.  Aos 11 anos compôs seu primeiro tango: Paso a paso hacia la 42 (La catinga);  e  aos  12  já tocava, na rádio WMCE, Mozart, Bach, Rossini e outros clássicos.  Aos 13, tocou na orquestra que acompanhava Gardel no filme “El día que me quieras”, além de atuar no papel de entregador de jornais. 

Regressou dos Estados Unidos para Mar del Plata, mas logo mudou-se para Buenos Aires, onde passou por várias orquestras pouco conhecidas, depois com Miguel Caló e finalmente, foi bandoneonista de Aníbal Troilo. Mesmo sendo muito jovem (23 anos), “El Gato” (apelido que o maestro lhe havia dado) já tinha bem delineada sua preferência pelo Tango e começou a fazer arranjos como lhe agradavam.  Isto fez com que o público reagisse negativamente e que Pichuco tivesse que intervir.  Desta forma, num misto de fatalidade e muito caráter, Piazzolla deixou a orquestra de Troilo para dirigir a orquestra que acompanhou Francisco Florentino como solista.  Em 1946 começou a dirigir seu próprio conjunto, e assim Piazzolla revolucionou o Tango, iniciando o movimento vanguardista.  Após a dissolução do seu conjunto, dedicou-se a tocar para alguns maestros.  Em 1954 apresentou sua “Sinfonía Buenos Aires”, ganhando com a mesma o concurso de F. Sevistzky, que a dirigiu na Radio del Estado.  Essa estréia, apesar de agradar ao público, desagradou a muitos tangueiros ortodoxos. 

Em 1954, com uma bolsa de estudos, viaja a Paris, onde estudou composição com Nadya Boulanger.  Antes de voltar à Argentina, gravou vários temas: Prepárense, Picasso, Imperial, Marrón y azul, Sens unique.  Já em Buenos Aires, forma um octeto com Francini e Baralis nos violinos, Pansera no bandoneón, Bragato no violoncelo, Nicolini no baixo, Malvicino na guitarra elétrica e Stampone no piano.  Em 1960, formou novo conjunto com Vardaro, Agri, Malvicino, Ruiz, Kicho Díaz, O.Manzi e Cacho Tirao.  Em 1965 vinculou-se a Borges no seu filme “El tango”.  Em 1968 compôs sua opereta “María de Buenos Aires”, com texto do poeta Horacio Ferrer.  Em 1969, com o mesmo, começou a compor temas mais simples, para a voz de Amelita Baltar.  Ali começou uma grande  difusão, alcançando  sucesso  popular,  especialmente  com  Balada para un loco.  Elaborou também temas alheios ao tango, como Muralla China, as quatro partes de Pulsación e a trilha de vários filmes.  Participou também do Festival de Jazz em Montréal, Canadá. 

Compôs numerosos temas, como por exemplo Adiós nonino (homenagem ao seu falecido pai), Inverno porteño, Buenos Aires hora cero, Revolucionario, Lo que vendrá, Decarísimo, Tango del ángel, Milonga loca, Pigmalión, La misma pena, Menefrega (os últimos três com Homero Expósito), alguns valses como Chiquilín de Bachín, com letra de Ferrer, entre muitos outros.  Durante uma turnê pela Europa, sofreu um derrame cerebral, morrendo cerca de um ano depois, em 4 de julho de 1992.   Piazzolla foi um músico controverso, discutido, sem dúvida sua fama atravessou os limites da Argentina.  Amado por muitos, renegado por tantos outros, mas nunca ignorado.  Muito além do que possamos pensar ou sentir de sua obra, não podemos negar seu talento.

Fonte:  El Portal del Tango / Todo Tango – Trad. RM