No 168 - Ano XIV - Janeiro de 2009


Claudio Gonzalez e Fernando Gracia (ARG)

Às vezes alguém se supreende:  "Estranho, tão jovens e já se dedicam ao tango!".  Trata-se, geralmente de pessoa que frequenta o ambiente tanguero e percebe esta realidade como uma boa notícia.

Por outro lado, há aquele que não perdoa: "Você é muito jovem" ou "Você não viveu o tango", ou ainda, "Você não era nascido, mas eu...", e em todos os casos segue-se uma maçante narrativa de uma experiência pessoal que só interessa ao seu protagonista.  O pior de tudo é que se engana: os jovens, sim, vivem o tango.  Naturalmente não estamos nos anos 40,  porém exigir em 2010 que se comporte como em 1940 não é coisa de jovem.  É coisa de tolos. 

É redundante dizer "tango jovem".  Não existe outro.  E não se trata de uma mera questão de idades.  Trata-se da paixão.

Nós que respeitamos os mais velhos não nos deixemos confundir pelos velhos mal-educados.  A juventude não é um pecado e sim uma bênção, porque a febre da juventude é que mantém o tango em sua temperatura normal.

(De um editorial antigo da revista El Tangauta - trad. RM)

 

Cantemos

  (Tango - 1944)

Música: Oscar Arona                                                                                        Letra: Francisco G. Jiménez

 

 

Malvón, balcón y sol, en su acuarela

la callejuela de San Telmo pinta...

El marco anima con la niña bella

y el suave clima de  la evocación.

La flor ya rara es.  La reja no es de hoy.

Los muros dejan ver el cielo, el sol....

¡Malvón! Mi corazón ya me abandona;

y es tu aroma que se asoma

quien retoma la ilusión.

 

Barrio mío, calles mías, vuelvo de otras con hastío.

Rosas de melancolía me añoraban alegrías de malvón...

Altas casas me apresaban, y por éstas suspiraba:

sombras de zaguán, patios con parral

y ancha bendición de sol.

Calles mías, barrio mío...

¡tu hijo pródigo soy yo!

 

Orquestra de Ricardo Tanturi, canta Enrique Campos

 

Assim se tece a história

 

Violinista e compositor, Antonio Oscar Arona nasceu em Buenos Aires (San Telmo) em 7 de novembro de 1905.  Seu pai, Antonio Arona, que ficou famoso dirigindo o coral "Los Cívicos" nos carnavais de San Telmo do início dos anos 1900, foi o primeiro que o introduziu aos segredos das notas musicais.

Não teve atuações de destaque em público, porém sobressaiu-se pela composição.  Seu tango "Barba blanca" iniciou em 1928 uma lista de obras de relevo, com algumas de invejável fama:  "Parque Patricios”, "Al volver de Madrugada", "Vieja Muchachada", "Malvón", "El Repique", "Mía", "Pobre Huerfanita", "Ternuras", "Fray Milonga", "Bailes de Patio", "Menta y Cedrón", "Don Juan Mondiola", o vals "Imaginación", "Mentiras Criollas" (gravada por Gardel), "El Cornetín del Tranvía", "Volviendo del Ayer", "Bailongo de los domingos", etc.

Conta em um depoimento: "Havia mandado os manuscritos de "Mentiras criollas" à casa Max Glücksmann, que ficava na Calle Florida onde hoje se situa a livraria "El Ateneo".  Uma manhã, sabendo que já haviam selecionado os tangos do concurso de 1929, fui ali para ver se o meu tinha sido escolhido para concorrer às eliminatórias.  O júri era integrado por Gardel, Razzano, Firpo e Canaro.  No hall, encontrei Carlitos que saía do elevador com sobretudo cor de vinho e um requintado chapéu marrom e saudou-me com um sorriso.  Na ocasião, eu era quase um adolescente, mas atrevi-me a perguntar-lhe se meu tango tinha sido selecionado e me respondeu: "Veja, garoto, com esse nome há cinco ou seis tangos mas o que foi escolhido é muito bom, não sei se será o seu"...  E então cantarolou: "... que si corren pa ganar te lo vienen a decir"...  Alvoroçado, lhe disse:  "Esse é o meu, Senhor Gardel!".  "Então, meus parabéns, é um lindo tango", me resondeu.  Conheci Gardel em 1928, e ninguém me impressionou tanto como ele, por sua maneira de ser e seu porte nato de "muchacho porteño".

Fonte:  Del Greco, “Carlos Gardel y los autores de sus canciones” (trad. RM)