No 145 - Ano XI - Fevereiro de 2008


André Sampaio e Alice Vasques (Rio de Janeiro-BRA)

O tango é marca registrada da alma de Buenos Aires.  Sua inconfundível poética emerge hoje e sempre, capaz de atravessar o in-consciente coletivo de gerações inteiras no seu solo e além mar.

Superou os perímetros musicais dos ritmos que o conformaram (ha-baneras e tangos andaluzes), engendrou sua própria linguagem (o lunfardo) e desafiou os estertores remanescentes da hipocrisia vitoriana com uma dança sensual e excitante, onde o desejo foi um coreógrafo procaz, alheio a qualquer protocolo.

Sergio Varela (ARG)

 

 

Cantemos

 

(Vals)

Letra:  Eugenio Cárdenas                                                                     Música:  Rafael Rossi

(Canta Carlos Gardel, com guitarras)

La tarde que en tus ojos vi el mundo de mi cielo ideal,

todas mis ansias puse en ti y desde entonces supe amar.

Y mientras que en un velo azul brillaba majestuoso el sol,

yo te supe entregar mis suspiros de amor.

Tu vida encantadora amé de cuando te acercaste a mí,

porque me parecía ver un cielo de ternura en ti.

Y de esa vez, mis ansias van buscando tu pasión

porque ella aumenta mi viva emoción.

 

Junto a la madreselva en flor tu boca, sólo mía, fue,

y en ella mi cariño halló la gloria que soñé.

¿Te acuerdas, mi preciosa hurí, que tu alma enamorada, fue

en todo mi feliz querer una rosa de Abril?

 

Tú sos, mi bien, vergel de amor,

mujer por quien mi ser vivió.

Y si tu corazón me das he de sentir

la dulce paz de mi vivir.

 

 

Assim se tece a história

 

O poeta nasceu na provîncia de Buenos Aires no dia 6 de setembro de 1891.  Chamava-se Asensio Eugenio Rodriguez.  Durante toda sua trajetória como autor, assinou suas poesias e suas letras com o pseudônimo composto pelo seu segundo nome e o sobrenome materno.  Hoje em dia, sem parentes diretos e desaparecida a maioria de seus contemporâneos, rastrear sua vida e seus inícios como autor tornou-se difícil - a não ser por seu colaborador, amigo e afilhado Rafael Rossi, que trouxe à tona muitos dados valiosos. 

Sua infância e adolescência perderam-se no tempo; apenas se sabe que no início dos anos 20, iniciou suas atividades como autor profissional, casou-se e instalou-se na cidade de Buenos Aires.  Em fins de 1925 o poeta ingressa na Sociedade Argentina de Autores e Compositores de Música (SADAIC) e registra mais de 500 obras em colaboração com diferentes músicos.

Apenas com algumas canções de sua autoria bastaram para que Cárdenas ficar na história do tango e na lembrança dos que o conheceram.  De toda sua obra autoral somente tiveram difusão uns 80 temas, estreados na rádio ou gravados por cantores e orquestras desde aquela época até a atualidade.  Carlos Gardel foi o principal intérprete de suas obras, foi o porta-voz ideal para que seus temas se convertessem em sucessos definitivos, ficando definitivamente enraizados na emoção popular.

Seus mais assíduos colaboradores e amigos foram o guitarrista Guillermo Barbieri e o bandoneonista Rafael Rossi, que o estimularam no seu começo e lhe abriram as portas do sucesso e da popularidade através do vínculo com Carlos Gardel.  Com música de Guillermo Barbieri fez os tangos Tierra hermana, Besos que matan, Barrio viejo e o vals Alicia.  Com Rafael Rossi realizou Por el llano, Ave cantora, Perdonada, La milonga, Fiesta criolla, Senda florida, além do popular vals Rosas de abril.  Também compôs  Flor de cardo, Trapito, Soñando, Sueños, El pibe, Tu mirada, Ave sin rumbo, Una lágrima, Vida amarga, Meditando, Falsas promesas, Te fuiste hermano e o vals Mala suerte.  Veio a falecer em 1º de janeiro de 1962.

Fonte:  Revista "Tango y Lunfardo” no 52

voltar ao início