No 122 - Ano X - Fevereiro de 2006


 

O sentimento, a emoção, a intimidade e a sensualidade integram a experiência de dançar o tango; mas, embora sendo os mais referidos, são também os mais difíceis de explicar e de ensinar.  Existem várias citações e frases célebres a serem esco-lhidas como lemas para promover o aumento da qualidade do tango, mas como todas as frases feitas, transformam-se em meros chavões no momento em que se tenta transformá-las em palavras de ordem para um programa de aprendizagem.

Enrique Santos Discépolo é autor de uma delas: O tango é um pensamento triste que se pode dançar.  Alguns anos mais tarde, um jornalista do interior escreveu: O tango é a expressão vertical de um desejo horizontal.  Não há notícia de que, quer Discépolo, quer esse tal jornalista, tenham alguma vez dançado tango.  O primeiro preocupava-se em expressar naquela frase a tristeza e a nostalgia, símbolos de uma cultura popular suburbana que se perdia e descaracterizava, ameaçada e invadida por valores de outras culturas dominantes.  O segundo apostava na curiosidade lúbrica das pessoas, servindo a frase como chamariz para conduzi-las diretamente às bilheterias dos espetáculos de tango. Infelizmente, algumas dessas pessoas também foram parar nas pistas de dança...

(Pesquisado na Internet – trad. RM)

Cantemos

(Milonga)

Yo nací en un conventillo de la calle Olavarria,

de la calle Olavarria

y me acuno la armonía de un concierto de cuchillos.

Viejos patios de ladrillos donde quedaron grabadas

sensacionales payadas y al final del contrapunto

amasijaban un punto pa' amenizar la velada.

 

Cuando quise alzar el vuelo piante del barro al asfalto,

piante del barro al asfalto.

Pretendí volar tan alto que casi me vengo al suelo.

Como el zorro perdí el pelo pero agarre la manía

de logiar la gileria y al primer punto voliao

con algún fato estudiao dejarlo en Pampa y la vía.

 

Una vez un tal Loyola me embroco en un guay fulero,

me embroco en un guay fulero

batida, bronca, taquero, celular, biaba y gayola

di concierto de pianola manyando minga y solfeo

y aunque me llaman el feo colgué mi fotografía

donde esta la galería de los ases del choreo.

 

Hoy que estoy en los 40 en el debe de la vida

chapé una mina raída que tiene más de la cuenta.

Anda en un auto polenta diqueandome noche y día

sin manyar la gileria que me esta envidiando el brillo

que nací en un conventillo de la calle Olavarria.

 

Assim se tece a história

 Segundo José Gobello em seu Diccionario Lunfardo, conventillo é um “lugar ou casa das redondezas, de aspecto pobre e com muitas dependências, em cada uma das quais vive um ou vários indivíduos”.  Na realidade brasileira, seria um “cortiço” ou “cabeça de porco”. 

O conventillo também era chamado de “cuartel”.  Saiu publicado no jornal La Nación de 1871, onde dizia: “...abriram uma campanha para que se estabeleçam condições de higiene nas casas de inquilinato chamadas cuarteles”.

O centro da cidade de Buenos Aires, em 1880, tinha como limites a Catedral, as paróquias de Monserrat, San Miguel, San Nicolás e La Piedad, com subúrbios que se estendiam até San Cristóbal, Balvanera, Miserere, Socorro, Pilar, Palermo, San Telmo, Concepción, San Juan Evangelista e Santa Lucía.  Foi nesta zona, próxima ao porto, o local mais propício para que se instalassem os imigrantes.  O primeiro lugar onde ficaram chamou-se "Hotel de Inmigrantes".

Também, ao serem abandonados os imóveis do sul da cidade por causa das epidemias de febre amarela e cólera, muitas famílias hospedaram-se naqueles enormes prédios, com um pátio central e onde se compartilhava a vida cotidiana.  Por isso, San Telmo, Monserrat e San Cristóbal foram os primeiros refúgios. 

Diante da falta de habitação, também foram se erguendo pequenas casas de madeira e chapa metálica nas margens do Riachuelo e próximo ao Hotel de Inmigrantes, onde hoje fica o Caminito.  Assim surgiram os conventillos.

Fonte:  Todo Tango – trad. RM