No 120 - Ano X - Dezembro de 2005


Vivemos num estranho e maravilhoso universo.  Apreciar sua idade, tamanho, violência e beleza exige uma imaginação extraordinária.  O espaço que ocupamos pode parecer insignificante e, portanto, tentamos dar sentido a tudo isso e ver onde é que nos encaixamos.  Pensamos às vezes a que distância as estrelas estão e por que não pergun-tamos a que distância encontramo-nos de nós mesmos...

Encurralados pelas fôrmas do meio, escolhemos, muitas vezes, aquilo ou aquele que nem sempre se encaixa com o que somos e queremos ser.  Sabemos nos posicionar exatamente sobre a estampa e movimentos que melhor se adequam ao outro, mas qual veste social escolhemos para brilhar:  a do dever ou do gostar de ser?

Cada escolha, suas conseqüências.  Talvez devessemos eleger mais dias em que somos a nossa absoluta prioridade.  E então, entre ‘nós’ e  ‘eles’ soa a pergunta:  qual o Tango que mora dentro de nós e ousaríamos apresentar no salão?

(ADR)

Cantemos

(Vals - 1941)

Letra:  José María Contursi                                                                Música:  Enrique Francini e Héctor Stamponi

Mucho tiempo después de alejarme,

vuelvo al barrio que un día dejé...

con el ansia de ver por sus calles

mis viejos amigos, el viejo café.

En la noche tranquila y oscura

hasta el aire parece decir:

"No te olvides que siempre fui tuya

y sigo esperando que vuelvas a mí".

En esta noche vuelvo a ser

aquel muchacho soñador

que supo amarte y con sus versos

te brindó sus penas...

Hay una voz que me dice al oído :

"Yo sé que has venido

por ella... por ella !".

Qué amable y qué triste es a la vez

la soledad del arrabal

con sus casitas y los árboles que pintan sombras.

Sentir que todo... que todo la nombra,

¡qué ganas enormes me dan de llorar!

Bajo el cielo cubierto de estrellas

una sombra parezco al pasar...

No he de verme jamás con aquella

¡qué tanto mi quiso... y hoy debo olvidar!

En la noche tranquila y oscura

hasta el aire parece decir:

"Para qué recordar que fui tuya

si yo ya no espero que vuelvas a mí!".

 

Assim se tece a história

Poeta, nasceu em Lanús, subúrbio de Buenos Aires, em 31 de outubro de 1911.  Foi locutor da extinta rádio Stentor, cronista de cinema e funcionário do Ministério da Agricultura, ofício este que o punha a salvo dos altos e baixos financeiros.  Letrista essencialmente poético, sensível e produtivo, com sua linguagem culta elevou o nível do tango cantado. 

Sua numerosa obra deve-se principalmente à demanda de canções que existia entre os anos 30 e 40.   O decisivo papel dos cantores nas orquestrasexigia um repertório pensado para eles e adequado aos gostos da época.  Vocalistas como Alberto Marino, Juan Carlos Casas, Raúl Iriarte, Libertad Lamarque e Julio Sosa, entre outros, devem seu êxito histórico às letras de Contursi.

Entre suas letras, sobressaem-se Claveles blancos, Lluvia sobre el mar e Tabaco, com música de Armando Pontier; Cristal e Tu piel de jazmin, com Mariano Mores; Mi tango triste, Garras e Evocándote, com Aníbal Troilo; Milonga de mis amores, com Pedro Laurenz; , com José Dames e o vals Bajo un cielo de estrellas, com Héctor Stamponi e Enrique Francini.

As histórias prostibulárias das letras de seu pai já não eram mais populares e o que estava em voga eram assuntos sentimentais. E foi este ambiente quase excludente no qual viveu, sempre romântico, ora melancólico, ora arrebatado.

Tão coerente foi com esta atitude poética que casou-se com a protagonista de uma de suas letras mais divulgadas - Gricel (música de Mariano Mores).  Nesses discretos versos de 1942 Contursi se acusa de ter seduzido e abandonado uma moça e chora desconsolado, tardiamente enamorado dela, que já o havia esquecido.  Mas na vida real, este melodrama terminou no altar.  Susana Gricel Viganó contraiu matrimônio com seu carrasco sentimental.  José Maria Contursi veio a falecer em 11 de maio de 1972.

Fonte:  Julio Nudler, para Todo Tango (Trad. RM)