No 116 - Ano IX - Agosto de 2005


Osvaldo Zotto e Lorena Ermocida (Buenos Aires) Editorial

«Bailar al piso:  Diz-se da forma de dança clássica e austera do Tango de Salão, sem ganchos, varridas, boleos ou sacadas violentas».

Tudo o que os entusiastas do tango aprendem, querem desenvolver nas pistas de nossas milongas.  Pagaram horas incontáveis de aulas, em grupo ou particulares, tudo para dar de cara com o olhar desaprovador dos freqüentadores de sempre.  Então, se marcaram em sua parceira um boleo que atinge com violência o casal ao lado... 

Ainda bem que os habitués dos bailes de tango primam por uma inesgotável paciência e tudo não passa de um pequeno acidente.  Aqueles mais sensíveis se tocam rapidamente e se recolhem, ou continuam mais discretamente.  Com sorte, muitos encontram as pessoas certas, que lhes passam a noção simples e correta de como dançar tango no salão.

Quando as damas descobrem o  abraço e a cadência do verdadeiro tango de salão, não querem mais saber do tango que viram bailar no palco.  Quando os cavalheiros descobrem que podem despertar sensações incríveis em sua eventual parceira; que conseguiram conduzir com firmeza e sensibilidade, com elegância e discrição qualquer dama, então todos estarão mergulhando, sem volta, no legítimo mundo do Tango.

(RM)

Cantemos

(tango - 1923)

Letra:  José González Castillo                                                                                       Musica:  Cátulo Castillo e Sebastian Piana

Una calle en Barracas al Sud,

una noche de verano,

cuando el cielo es más azul

y más dulzon el canto del barco italiano...

Con su luz mortecina, un farol

en la sombra parpadea

y en un zaguan esta un galan

hablando con su amor...

Y, desde el fondo del Dock,

gimiendo en languido lamento,

el eco trae el acento

de un monotono acordeon,

y cruza el cielo el aullido

de algun perro vagabundo

y un reo meditabundo

va silbando una canción...

Una calle... Un farol... Ella y el...

y, llegando sigilosa,

la sombra del hombre aquel

a quien lo traiciono una vez la ingrata moza...

Un quejido y un grito mortal

y, brillando entre la sombra,

el relumbron con que un facon

da su tajo fatal...

 

Assim se tece a história

                               

Jornalista, escritor e dramaturgo.  Nasceu em 25 de janeiro de 1885 na cidade de Rosário. Cedo fica órfão, é criado por um padre e iria seguir a carreira religiosa, mas sua rebeldia inata se impõe e transforma-se em um fervoroso defensor dos direitos humanos.  Estuda jornalismo e começa a trabalhar na carreira, radicando-se em Buenos Aires. Sua intuição o faz perceber que o teatro também pode ser tribuna de luta e reivindicações sociais e dedica-se por inteiro à redação de obras para o palco.   Destaca-se em sua obra a linguagem popular usada por seus personagens de marcante perfil suburbano. Isto define o jornalista como futuro autor de letras de tango de genuína inspiração popular. 

Mais tarde, escreve livretos para o cinema, mudo a princípio, depois sonoro; porém nunca abandona seu "primeiro amor", o teatro.  Além do drama, seu forte, cultivou outros gêneros, como a revista, a comédia, diálogos e monólogos, operetas, além de traduções e adaptações.  Além de orador, poeta, jornalista e letrista de tangos, ainda fundou a Universidade Popular de Boedo.  De sua vida pessoal, sabemos que é o pai do saudoso poeta e autor Cátulo Castillo. 

Desembocou definitivamente no gênero letrista de tango com Sobre el pucho, Silbando, Griseta, Aquella cantina de la ribera, El circo se va, El aguacero, Invocación al tango, Papel picado, Acuarelita del arrabal, Música de calesita e Organito de la tarde, entre outras.  Não podemos deixar de relacionar sua personalidade com a de alguns de seus antecessores, marcantes na época de expansão do Tango.  Um ataque cardíaco pôs fim à sua extraordinária vida, em 22 de outubro de 1937.

Fonte:  Todo Tango e Portal del Tango - trad. RM