Nº 80 - Ano VII - Agosto de 2002
O tango como caramujo recolhido ao seu
universo, como diapasão ressonante do anímico, colhia desde os espaços
vazios ou dos buracos negros do tempo, a música oculta dos seres e dos
lugares.
Agarrava-se
sem descanso às palavras e choros, aos tesões, aos cheiros, às
"boquitas pintadas" e aos silêncios das histórias de todos e
de ninguém.
A
heterogênea, a conturbada história dos fantasmas reais de Buenos Aires
entranhados na umidade de paralelepípedos desgastados pelo tempo e os espíritos
inventados manhosamente pelo tango.
Criados
pelo seu próprio medo, o da solidão, das traições, os beijos, as
sempre noites, os compassos intermitentes, a morte de um amor tão
protetor e necessário como "cada corazón".
Do
tango nasceu uma prole emocionante, aquela trazida de seres que foram de
sangue e de ossos, de carne e de sonhos, em cada dia de misérias, amores
intensos e apreciável grandeza. (ADR) |
(Tango - 1920) |
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Letra: Enrique Cadícamo Música: Eduardo Arolas |
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Viejo
café de Barracas, turbios recuerdos de entonces,
que
allá por el año once tenía entreveros de facas...
Hoy
has cambiado tu pinta, todo es nostalgia y neblina,
ya
no es muchachos de esquina la del Café El Pasatiempo, cuando tocaba en sus tiempos el Tigre del Bandoneón.
Lupe
cantaba canciones bellas, Lupe era estrella de aquel café,
Tu
luz de gas ya no destella ni alumbra más la escena aquella, Cuando una noche, de puro guapo, la alcé en un coche y la robé.
Sacarle
punta a un recuerdo es regresar del olvido...
¡Cuántos
amigos se han ido; de todos ellos me acuerdo!
Ya
nos perdimos de vista, viejo café de Barracas;
Siento
tus luces opacas y hoy tiemblan dentro ‘e mi pecho... ¡Yo soy tu amigo derecho que no te olvidó jamás! |
Assim se tece a história |
Seu
nome de família era Lorenzo Arola. Foi músico, guitarrista, bandoneonista, compositor e maestro.
Nascido em 25 de fevereiro de 1892, no bairro de Barracas, Buenos Aires. Filho de imigrantes franceses, cedo aprendeu a tocar de ouvido a
concertina, passando em seguida à guitarra, instrumento com o qual integrou
grupos que tocavam em cafés de bairro. Em 1906,
pela primeira vez colocou
um bandoneón nos joelhos e em pouco tempo aprendeu a tocá-lo até converter-se
no virtuoso ao qual os admiradores chamavam de “El Tigre del Bandoneón”.
Foi continuador da evolução bandoneonística proposta por Maglio, Greco
e Spósito.
Foi
um vanguardista em sua época, tanto como executante quanto como maestro.
Eram célebres seus fraseados oitavados de direita e o domínio dos botões
esquerdos do bandoneón.
Também em suas composições, onde antecipou o ar nostálgico e o caráter
puramente portenho, que mesmo hoje soam atuais.
Não
obstante, Arolas marcou por sua obra: os tangos Derecho viejo, Retintín, Adiós Buenos Aires,
¡Araca!, ¡Qué querés con esa cara!, El Marne, Comme il faut, La cachila, Café de Barracas,
Fuegos artificiales, Mishiadura, Lagrimas, Nariz, Dinamita, Bien tirao, Moñito,
La cabrera, El rey de los bordoneos, Púas bravas, Place Pigall, Rewson, Maipo, Papas
calientes e tantos outros, além dos valses Notas del corazón, Tu
sueño, Despedida.
Existem
versões oficiais de sua morte em 29 de setembro de 1924, de tuberculose
pulmonar, num hospital em Paris. Essa, sem dúvida, é muito mais romântica do que a outra, abafada com
muito dinheiro, de que foi assassinado por ter “roubado” uma francesa de
bordel. Porém,
mesmo tendo sido esta a verdade, não conseguirá minimizar sua glória como
compositor genial de alguns dos mais belos tangos que já foram escritos.
Fonte:
El Portal del Tango / Todo Tango – Trad. RM