Nº 68 - Ano VI - Agosto de 2001


Renata Alves e Guilherme Pimentel

Afinidade - sf. 1. Relação, semelhança. 2. Conformidade, identidade. 3. Coincidência de gostos ou de sentimentos. 4. Vínculo de parentesco em virtude de relações não sanguíneas.

No caldeirão da milonga cozinham muitas afinidades.  Gosto pela música, solidão, simpatias, assuntos em comum, risadas das coisas mais simples e corriqueiras fazem dessa convivência um agradável banquete.  Juntinhos ou afastados, dançando um vals, uma milonga ou mesmo um tango introspectivo, casais, não casais, até desconhecidos lançam na pista de dança um redemoinho de emoções, projetam seus corpos, refletem o que foi absorvido nas aulas ou na simples observação dos outros. 

Até mesmo numa época de crise, as afinidades estão aí para amenizar o estresse, os amigos atuando como um bálsamo refrescante com um fundo de música inspiradora, levando-nos a relevar tudo o que aborrece para nos concentrarmos apenas num objetivo: o Tango, essa afinidade definitiva.

(RM)

 

Cantemos...

(tango-vals)

Letra: Homero Expósito                                                                              Música: Héctor Stamponi

Deshojaba noches esperando en vano que le diera un beso,

pero yo soñaba con el beso grande de la tierra en celo.

Flor de Lino, qué raro destino

truncaba un camino de linos en flor...

Deshojaba noches cuando me esperaba por aquel sendero

llena de verguenza, como los muchachos con  un traje nuevo

cuantas cosas que se fueron,

y hoy regresan siempre por la siempre noche de mi soledad!

Yo la vi florecer como el lino de un campo argentino maduro de sol...

Si la hubiera llegado a entender

ya tendría en mi rancho el amor!

Yo la vi florecer, pero un día, mandinga la huella que me la llevó!

Flor de Lino se fue y hoy que el campo está en flor

¡Ah, malhaya! me falta su amor.

 

Assim se tece a história

Héctor StamponiPerfeito representante da nata da chamada Geração dos 40, exímio pianista, um dos maiores solistas que o tango já teve, "Chupita" Stamponi brilhou com luz própria num meio que conta e contou com pianistas notáveis

Nasceu em 24 de dezembro de 1916, em Campana. Aos sete anos, começou a estudar piano e, ao mesmo tempo, continuou seus estudos primários e secundários até formar-se como professor.  Já adulto, aperfeiçoou-se em harmonia e em composição.

Desde seu início no conjunto de Juan Elhert, em 1936, logo passou a integrar as orquestras de Federico Scorticati, Miguel Caló e Antonio Rodio. 

Passou alguns anos afastado do país, radicado no México por razões profissionais em 1943, onde escreveu música para muitos filmes da época. De volta à Argentina, formou seu próprio conjunto, sendo que neste período foi muito solicitado para o cinema e o teatro.  Entre outros, musicalizou o filme “Carlos Gardel, historia de um ídolo” e a obra teatral, comédia de Cátulo Castillo “Cielo de barrilete”.

Acompanhou ao piano ou como maestro muitos dos melhores cantores:  Edmundo Rivero, Roberto Rufino, Hugo del Carril, Charlo, Alberto Marino, Raúl Lavié, etc.  Em 1953 formou dueto com Enrique Mario Francini, piano e violino, para deleite daqueles que conseguiram assisti-los em recitais públicos e programas radiofônicos, tão comuns naquela época.  Vez por outra era contratado pelas rádios para atuações ao vivo, muitas das quais, infelizmente, por imprudência e até por abandono, não foram gravadas ou, se foram, perderam-se com o correr dos anos, como produto de uma cultura que não valoriza os bens musicais, artísticos e testemunhais.

Seus temas Qué me van a hablar de amor, Aquí nomás, Festejando, Romance y tango, Mi cantar, Es mejor olvidar, Pueblito de provincia, En la huella del adiós, Alguien, Zamba, Canción de Ave María e os valses Un momento e Flor de lino, foram diferentes momentos de sua inspiração, mas não os únicos.  Também incursionou como letrista em Yo quería ser feliz e Cuando cuentes la historia de tu vida.  Até bem recentemente podíamos escutá-lo em casas noturnas e alguns restaurantes, além de animar ao piano os assíduos freqüentadores de confeitarias mais ou menos centrais, sempre dignamente e com sobriedade.  Héctor Stamponi faleceu aos oitenta anos em 5 de dezembro de 1997 e está sepultado no cemitério de  Chacarita.

(trad. RM)

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