No 146 - Ano XI - Abril de 2008


Patricia Amaya e Marcio Alexandre

 

Vários amigos, amantes do Tango, estão desis-tindo de freqüentar os Bailes de Tango.  Uma das queixas é sempre a mesma: excesso de dança de salão entremeada nas músicas.  A primeira alegação defensiva é que se toca dança de salão para atrair os habitués daqueles bailes ou "atendendo a pedidos"... 

Não temos ainda orquestras de Tango, mas sabemos que a maior parte dos DJs têm um gigantesco acervo contendo raridades e excelentes gravações que abrangem diversas épocas.  Toquem-nas, meus queridos!!!   

Ora, quem vai a um Baile de Tango procura, a princípio, um lugar onde se ouça e possa bailar bons Tangos, Milongas e Valses, ou seja, uma autêntica milonga, o mais próxima das que existem em Buenos Aires.  Quem vai a um Baile de Tango para ouvir Dança de Salão, com todo o respeito, estará indo apenas a mais um baile...

Vamos pensar neste assunto com carinho. 

(RM) 

Cantemos

 

Letra e Música:  Pintín Castellanos 

(Canta Alberto Arenas com  a orquestra de Francisco Canaro)

A mi me gusta bailar con corte, a mi me gusta ser muy sincero

y que sean mis amigos/mis mejores compañeros.

A mi me gusta todo lo nuestro, tangos,candombes y el milongón,

y el alma que se agiganta cuando escucho el bandoneón..

 

"Atención la muchachada y a bailar que se disponga

que aquí llega la criollita, su majestad ¡la milonga!”

 

¡Que si!, ¡que no!, ¡que no!, ¡que no!

si tu quieres ser feliz, mirá como vivo yo...

¡que si!, ¡que no!, ¡que no!, ¡que no!

la receta es bien sencilla ya ves como pienso yo.

 

A mi me gusta ser de esta tierra, a mi me gusta ser buen criollo

y luchar por lo que quiero, con apoyo o sin apoyo.

A mi me gusta vivir la vida, serenamente, sin pretensión.

Con la conciencia tranquila se duerme que es un primor.

 

 

Assim se tece a história

 

Horacio Antonio Castellanos Alves, pianista, compositor e maestro, nasceu em pleno centro de Montevidéu, em 10 de junho de 1905.  Desde pequeno, conviveu nos subúrbios com os ecos dos tambores do candombe negro, daí sua ligação afetiva com as melodias populares.  Com 14 anos já surgia sua primeira composição: "El pirata".  Em 1933, ocorreu um fato que mudaria sua vida.  Num clube noturno onde tocava piano, brindou o público com uma nova composição que chamou "La puñalada", com um certo ar de milonga.  Nesse título repousaria toda a fama de Pintín.   Percorrendo suas obras, cerca de duzentas registradas, nenhuma outra teve maior repercussão. 

Corre como anedota, que achava-se Pintín tocando num local, e o público, por alguma razão, começou a impacientar-se.  Pintín continuou, e justo quando interpretava "seu tango", a impaciência chegou ao limite.  O músico, nervoso, não via a hora de terminar e acelerou o ritmo para abreviar seu estresse.  Alguém com bom ouvido compreendeu que como milonga, andaria melhor e aí a coisa pegou.  No verão de 1936, Juan D'Arienzo começava sua temporada em Montevidéu onde ele, seu pianista Rodolfo Biagi e o violinista Alfredo Mancuso transformaram o tango de Castellanos em milonga, gravada em 1937.  Logo após, a milonga é gravada pela orquestra de Canaro em ritmo de tango.  Imediatamente, Celedonio Flores se interessou por ela e criou uma letra. Depois de sua morte, foram contabilizadas 127 versões do sucesso. Em 1939, Pintín formou sua orquestra, sempre em Montevidéu.  Seu estilo foi rítmico, cheio de percussão, por isso a sua veia criadora gerou várias milongas e candombes.

Em 1943 gravou em Buenos Aires, com seu quinteto Canyengue:  o tango Dejame ser como soy e o candombe Canyengue negrero.  Gravou mais 14 títulos, entre os quais os tangos Francia eterna, De galerita y bastón, Entre cortes y quebradas (título de um livro de sua autoria), Para campeones, Fantasía, Besos de mujer, La estancia e Matos Rodríguez, composto imediatamente depois do falecimento de seu conterrâneo compositor; as milongas La puñalada, Aprontate, Academia, Meta fierro e o candombe Bronce.  Outras composições suas são o tango Anocheciendo, El pájaro muerto (em homenagem a Gardel), Besos de mujer.  D'Arienzo foi quem o assumiu como fornecedor de milongas e gravou A puño limpio, Barrio de guapos, Candombe oriental, Cajita de música, El potro, El temblor, La endiablada, Me gusta bailar milonga, Peringundín, Tirando a matar, Chaparrón e Candombe rioplatense, além do tango Don Horacio.  Veio a falecer em 2 de julho de 1983.

Fonte:  Nestor  Pinsón para Todo Tango / trad. RM

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