Para meu bairro

por Alfredo Basualdo

                

Quero uma esquina com um farolito para me encostar enquanto fumo o cigarrinho do dia e dou uma paquerada na bonitona do bairro. Tem que ter uma pracinha com bancos para que eu possa testar se tem clima para um beijo. E um bar esculachado com um galego no caixa e um cartaz que diga "Hoje não tem fiado, amanhã tem". Um balcão cheio de trabalhadores que ainda cedo engolem uma aguardente no frio inverno, que descolam um trocado que dê para o cigarro. E uma música que não deixe ninguém dormir a sesta nos sábados à tarde. E algum lugar onde se possa jogar uma pelada sem que um bonde nos atropele. Quero um clube com um pátio coberto por um carramanchão, enfeitado com madressilva.

Quero uma patroa esfregando as mãos no avental enquanto espia a vizinha que cochicha com o guarda de plantão. Quero uma morena de tranças e saia curta, se tiver mais de 30 melhor. Quero ouvir com freqüência o canto de um bom seresteiro. Quero escutar um Tango de Alfredo De Angelis, melhor ainda se for com mil violinos. E quero minha velha sentada em sua rede cerzindo as pontas das minhas meias. Que mais se pode pedir à vida e ao nosso bairro?

Como dizia Troilo "nunca me fui de mi barrio, siempre estoy llegando".

 

(Publicado em: CAMBALACHE Nº 2 La Gaceta del Tango por Internet)

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