O que você sente quando dança, quando
abraça?
por Paula Mottillo (argentina,
professora de Tango)
Que coisas diferentes sente dançando com uma ou outra pessoa?
Depois de 14 anos de
dançar tango cinco noites por semana nas melhores milongas
portenhas,
escrevi uma nota sobre isso que eu sinto quando me abraçam; as
distintas sensações que me deram diferentes dançarinos.
Às vezes me sinto "femme
fatale". Quando o homem tem uma energia de "show" me faz
sentir essa energia concentrada no meu centro, minhas pernas, meu
abraço, tudo... me faz sentir sensual.
Outras, me sinto forte,
com raiva. Alguns homens são exigentes, agressivos, e aí tenho
que estar "concentrada" e fazer os movimentos sem hesitar.
Às vezes me sinto amada.
Alguns dançarinos têm um abraço suave e protetor ao mesmo tempo, que
me fazem sentir cuidada.
Outras, me sinto leve e
livre. Quando o homem está em seu eixo e tem uma boa rotação,
é incrível dançar a tanda inteira com um abraço bem fechado, sem me
sentir atrapalhada ou incômoda.
Às vezes me sinto "salonera". Com aqueles dançarinos estilo
"Villa Urquiza" que me fazem sentir elegante, alta.
Outras, me fazem sentir
como uma bailarina contemporânea, sem os limites da postura de
tango, interpretando com meu corpo inteiro, mudando o "motor" do
movimento a partir dos pés, joelhos, quadril, torso, costas, mãos,
até o olhar...
Às vezes me fazem sentir
segura e relaxada. Quando eles não "dependem" do abraço para
conduzir ou fazer adornos, os movimentos são muito mais relaxados no
torso e mais precisos nas pernas.
Outras, me sinto útil.
Eu adoro sentir que ajudo o homem, deixando-o completamente livre
para poder fazer bonitos lápis e enrosques, por exemplo.
Às vezes a dança se sente simples. Porque depois que o corpo
compreendeu a técnica, a gente consegue maior sensação com menor
esforço.
Também às vezes me sinto
egoísta. Sim. Uma vez me falaram para tentar fazer os
movimentos para mim (não sempre para o homem) e me senti mais segura
e independente.
Sem erro nem dúvida.
Quando eles me fazem executar o movimento sempre primeiro, eles
sabem perfeitamente em que perna está o meu eixo, se eu executei o
movimento mais devagar, com mais energia...
Então, às vezes sorrio.
Outras, tenho meus olhos fechados, concentrada.
Às vezes me apaixono, me
sinto dançando no céu. Outras, me sinto explosiva, como se a
pista estivesse vazia.
Às vezes me surpreendo
quando o homem me sugere aquela pausa ou adorno que eu queria fazer,
como se ele tivesse escutado a minha vontade...
Outras, deixo a música
acontecer, sem fazer movimento nenhum, voltar a abraçar, respirar
junto, devagar.
Mas o momento mais mágico
é quando você encontra aquele cara com quem se sente "natural".
Nem mulher fatal, nem
leve e solta, nem "salonera", nem contemporânea, simplesmente "eu".
E aí descobre que dançar
é muuuuuuito mais que conduzir ou ser conduzida, é conversar em
silêncio.
E nessa conversa com a
música, às vezes fala um, outro, todos ou ninguém.
Nós, mulheres, temos o
prazer de poder fechar os olhos e nos adaptar aos distintos tipos de
dançarinos, mas quando o homem consegue se deixar influenciar pelas
características da mulher... nossa... isso é Tango!
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